Lua de Sangue- Trigésimo Sétimo Capítulo

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    Tudo o que faço por dias é ficar deitada, segurando a mão fria de Leon, encarando seu rosto pálido, seus olhos estavam abertos, eu tentei chegar mais perto dele, mas as correntes me impediam, mas acho que isso é um castigo, ver a pessoa que eu mais amo no mundo me encarar, mesmo que esteja morta.
    Não bebo sangue a dias, mas não sinto sede, minha garganta não queima, não durmo a dias.
   -Tem que beber alguma coisa- diz Lissa, mas eu mal percebo, a resposta sai automática 
   -Não estou com sede.
   -Você não se alimenta a dias- ela diz -tem que se alimentar chérie.
   -Não estou com sede- digo encarando os olhos dourados de Leon -e não me sinto fraca, estou bem.
   -Sabine- é a vez de Anthony tentar me fazer comer -tem que se alimentar.
   -Não estou com sede- repito, apertando a mão de Leon.
   -Os bebês precisam comer- Luna tenta e eu, pela primeira vez, desvio o olhar de Leon -se não fizer por você, faça por eles.
    Pisco algumas vezes e afirmo com a cabeça, me sentando, mas sem soltar Leon.
    Lissa faz um corte na palma de sua mão e estende para mim, o sangue jorra do ferimento e vem até mim, formando uma serpente negra no chão sujo de pedra.
    Passo as pontas de meus dedos pelo sangue negro e levo até minha boca, é diferente, mais doce. 
    Mais poderoso.
   -Ele se foi Sabine- Sírinx diz e eu não olho para ela, apenas continuo bebendo o sangue do chão -quando Anika voltar, tem que deixa-la leva-lo.
   -Não- digo -não vou deixá-lo.
   -Eu não quero ter que ficar mais uma noite encarando o cadáver do meu melhor amigo, então tem que deixar que ela o leve!
   -Não- digo -é só não olhar.
   -Tem que deixar ele ir- Alice sussurra -precisa deixa-lo ir.
   -Eu não consigo- digo tão baixo quanto ela -não consigo deixá-lo.
   -Mas consegue encarar o cadáver dele- ela diz com delicadeza -ele não iria querer isso...
   -Ele está morto- digo -não pode opinar em mais nada.
    Ela se cala com minha rispidez e eu volto a me deitar, encarando o olhar vazio de Leon.
    Eu sei ele morreu, sinto isso em cada célula do meu corpo, literalmente. Não consigo mais sentir suas emoções e nunca mais vou ouvir seu coração bater perto de meu ouvido quando me aninho em seu peito, nunca mais vou sentir seus dedos passearem por minha pele, nunca mais vou sentir seu cheiro amadeirado de quando ele corria pela floresta, nunca mais vou ouvir suas palavras doces: "eu te amo", nunca mais vou poder ser consolada por ele e minhas filhas nunca vão conhecer o homem forte que era Leon.   
    Sinto vontade de chorar, mas não tenho mais lágrimas para derramar, estou seca, tudo o que posso fazer é continuar olhando para os olhos dourados e vazios de Leon.
 
                                                                           ⛤⛤⛤
 
   -Comida, vossa majestade?- diz Anika e finjo que não a ouço -vai me deixar levar o corpo de seu namoradinho hoje?
   -Não- digo, sem me importar com seu tom debochado, não valia a pena.
    Ela para de rir e segue entregando comida para Lissa e os outros que estavam nas outras celas antes de deixar um recipiente cheio de sangue, que empurro para Alice e Anthony assim que ela sai.
    Além de olhar para o rosto de Leon, presto atenção nos batimentos que vinham de mim, conto-os mentalmente, eram rápidos e batiam em um ritmo contínuo.
    Tento pensar em como seria de Leon soubesse delas antes de Max o matar, tento imaginar em como seria nossa vida no mundo humano.
    Eu estaria em meu primeiro ano de faculdade, ele seria um atleta, nós passaríamos os fins de semana juntos, ele me ajudaria com os trabalhos e iríamos ao cinema aos sábados e comeríamos pizza aos domingos, iríamos ficar assustados quando soubéssemos da gravidez, meu pai iria ficar uma fera e Anthony com certeza o xingaria de todos os nomes possíveis, diria que estava decepcionado comigo por ter engravidado aos dezoito anos, mas depois me ajudaria com tudo e mimaria aquelas crianças como me mimou quando eu era pequena, Leon arrumaria um trabalho depois da faculdade e aos sábados, eu ficaria chateada pelo pouco tempo que estávamos passando juntos, mas não diria nada a ele, porquê ele se esforçava, os meses iriam passar e ficaríamos apavorados com o nascimento dos bebês, Leon surtaria e não iriam deixá-lo entrar e assistir o parto, mas ele entraria assim mesmo, eles nasceriam e depois de alguns meses no casaríamos, moraríamos perto da praia, onde as crianças poderiam crescer felizes e na calmaria do mar, envelheceríamos juntos e iríamos sofrer quando nossos filhos saíssem de casa para viver suas próprias vidas.
    Sorrio ao pensar em como poderia ter sido caso fôssemos normais, mas paro quando olho novamente para seu corpo caído no chão, com um buraco em seu peito, bem na minha frente.
    Ele morreu, não vai mais voltar, nunca mais.
    O buraco em meu peito cresce e penso que irei chorar até morrer, mas apenas uma única lágrima cai de meus olhos.
   -Minha rainha- diz Max escorado nas grades de minha cela, penso em desviar o olhar de Leon, mas não vale a pena, não por Max -não vai me responder?
   -Cale a boca Maximus- diz Lissa entre dentes e fico agradecida, mesmo que não aparente.
   -Lissa- ele a cumprimenta -adoraria fazer suas vontades, mas tenho assuntos a tratar com minha esposa.
    Trinco os dentes e aperto ainda mais minha mão na de Leon.
   -Ela não é sua esposa, vossa majestade- diz Aaron -não se casaram e acho que o senhor sabe muito bem disso, ou é mais burro do que eu imaginava.
    Max rosna para Aaron, e Anthony rosna para ele, me deixando surpresa.
   -Olha só... você sabe rosnar- Max debocha de Anthony, que não se deixa abalar -mas preciso mesmo falar com minha rainha.
   -Não sou rainha- murmuro.
   -Olha, ela está falando- diz Anika e eu volto a olhar para Leon 
   -Se entrar aqui e me soltar -digo olhando para Max -eu mato você.
    Ele apenas ri e abre a porta de minha cela, entrando junto de Anika.
   -Pegue ela- diz Max a Anika que pega meus braços, tentando me soltar de Leon, mas eu dou uma bela mordida em seu braço, o pedaço de seu braço fica preso entre meus dentes, assim como seu sangue.
    Ela grita e bate com minha cabeça no chão, fazendo com que um gemido de dor saia por meus lábios.
   -Se fizer isso de novo, mordo você- ela diz
   -Fique a vontade- digo massageando minha testa dolorida.
   -Mais rápido lobinha- Max a apressa, ela me pega novamente, me colocando de pé, eu luto e tento me deitar novamente no chão, mas ela segura meus cabelos e me arrasta para fora da cela, Anthony e Alice, assim como todos os outros, rosnam para ela.
    Tento fazer qualquer coisa, controlar o vento, a terra, mas meus poderes não funcionam desde a morte de Leon.
    Fico de pé, bem a frente de Max, que me olha sorrindo.
    Pulo em seu pescoço e o mordo, arrancando um pedaço da carne de seu pescoço, assim como fiz no braço de Anika.
    Pego um pedaço de ferro que estava do lado de fora da cela e tento enfia-la no peito de Max, mas Anika aparece atrás de mim sem que eu perceba, enfiando sua mão em meu peito, pegando meu coração em sua mão, assim como Max fez com Leon, ela o puxa para fora e eu sinto o fim.
    O buraco em meu peito, Max gritando com a loba, arrancando sua cabeça por ter arrancado meu coração, tudo acontecendo devagar antes do fim.
    Caio no chão, sem o coração, mas ainda não estou morta.
    Posso ver com a visão embaçada as brumas da noite adentrando pela pequena janela e ouço o uivo de um lobo, como se Leon ainda estivesse vivo e me chamasse das entranhas da floresta, raios azuis envolvem meu corpo, me levando para longe, sinto braços me envolvendo, mas quando olho ao redor não vejo ninguém, não vejo quem eu queria ver me abraçando na escuridão, mas o olho mesmo assim.
    Meus olhos se encontram com o olhar morto de Leon.
    Ele é a ultima coisa que vejo no fim.
 
                                                                                                           

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