Lua de Sangue- Trigésimo Capítulo
-Eu odeio esse vestido- digo me olhando no espelho, eu estava enfiada em um vestido preto, com mangas boca de sino em um tecido crepe chiffon de seda, levemente transparentes, assim como a barra do vestido, que batia na metade das minhas coxas, aviam pequenos botões que iam de meus peitos até meu umbigo, meus ombros estavam a mostra, com decote que mostrava apenas o meu colo ossudo, minha cintura estava bem marcada e ele era levemente rodado, mas de algum jeito eu me sentia enorme -ele é lindo, mas pinica.
-Você não vai sentir isso quando se tornar vampira - diz Marie me olhando através do espelho -é um vestido lindo
Bufo enquanto me viro para tira-lo de mim.
-Só faltam dois dias- diz Marie
-Eu sei- digo de cara fechada -vocês vão me matar e depois eu vou voltar querendo enfiar os dentes em qualquer coisa viva, mas isso não muda o fato que Max ainda quer a droga do casamento e vocês me enfiarem em cada vestido bonito, me fazer escolher sapatos, tiaras, colares, cortinas, toalhas de mesas, não muda o fato de eu querer enfiar uma estaca de madeira no coração do seu irmão.
-Não será por muito tempo- diz ela
-Será tempo o suficiente- digo -Max é filho do irmão da minha bisavó! E eu descobri isso através de um papel. UM PAPEL QUE FALA!
-Um oráculo não é um papel, Alteza- diz Marie
-Não importa! Se Max quer a coroa pra ele, que seja! Mas ele não me fazer mudar de ideia com o fato de manter Leon em um calabouço escuro, nojento e úmido, só porquê ele iria ir embora. COMIGO! a ideia era minha!- digo me forçando a não chorar -Marie... você tem que tirar Leon de lá, precisa fazer isso por mim... por favor...
-Verei o que posso fazer- diz ela
-Marie...
-Princesa- diz Max encostado no batente da porta
-Maximus- digo, provocando-o. Funciona. -à que devo o prazer da visita de meu noivo?
-Temos assuntos a tratar, não acha?- diz com uma cordialidade que me faz virar meus olhos tão forte que penso que nunca mais poderei enxergar de novo.
-Sim- digo passando por Marie e indo até ele, que estende sua mão, eu a seguro e finco minhas unhas em sua pele, até sentir o sangue pingar. Sorrio ao perceber sua careta de dor.
Caminhamos pelo corredor, passando por olhares vazios de criados que preparavam tudo para a Lua de Sangue.
Paramos em frente a porta do quarto de Lissa.
Max bate algumas vezes até que ela a abre.
-Lissa- diz Max entrando em seu quarto, eu o sigo, ignorando o olhar preocupado de Lissa
-Já está pronto- diz ela a respeito do feitiço de aprisionamento que Max lhe pedira "educadamente" especialmente para Milles, já que a Lua Vermelha já estava com força total, ampliando os poderes dos seres sobrenaturais
-Dará certo?- pergunta ele
-Sim, Alteza- diz Lissa baixando o olhar para um papel com diversas runas -assim que ele chegar perto o suficiente e os guardas o imobilizarem, poderei fundir as runas em seu corpo e prende-lo, fazendo com que ele apodreça em segundos e assim se tornar apenas um saco vazio de maldade e psicopatismo.
-Ótimo- diz ele se sentando -depois do casamento poderei acabar com ele oficialmente.
-Max, eu acho melhor...- começo, antes de Max me interromper.
-Quieta- diz apontando seu dedo para mim, mordo a língua para não xinga-lo.
Max se tornou insuportável desde que descobrira a verdadeira identidade de seu pai (através do Oráculo, que achamos em nossa busca da verdadeira profecia na Biblioteca de Arcamo) e, em consequência, a sua também.
Marcus era irmão de Yasmine, mãe de Cecile, minha avó, então Max se tornou o herdeiro do trono e da coroa, tendo como compromisso acabar com Milles e trazer paz para Sienna.
Além de transformar a vida de todos ao seu redor, principalmente a minha, em um verdadeiro inferno na terra.
Ele baniu todos aqueles que eram contra ao seu reinado, prendeu Leon após tentarmos fugir para o mundo humano em um dos calabouços subterrâneos do palácio.
Marie e Lissa se juntaram a ele, eu até entendo a decisão de Marie, ela é irmã dele, mas a traição de Lissa foi demais para mim.
De uma deusa poderosa e temida que o odiava, se tornou um cãozinho assustado que o seguia cegamente e eu não posso nem culpar Max por essa decisão, ele perdeu todos os seus poderes desde que decidiu ficar longe de Milles, para ficar do meu lado e me proteger, porquê ele me ama.
Essa era desculpa dele.
Mas Lissa uma vez disse que ele não se preocupa com ninguém além dele mesmo e Marie, ela tinha razão, Max me quer por perto apenas para satisfazer suas necessidades carnais e seu orgulho.
E eu...
Eu apenas parei de tentar.
Parei de tentar salvar Sienna, salvar Leon, salvar Luna e Aaron, parei de tentar salvar a mim mesma e a pequena Serena, que aparentemente, se tornou a futura princesa.
Max a adora como uma filha, ele parece outra pessoa perto dela, uma pessoa gentil e amorosa, mas eu sei como ele é realmente.
Depois de algumas tentativas de me fazer comprar a ideia de que ele queria apenas e exclusivamente a minha segurança, ele desistiu e me faz de fantoche, dorme comigo em meu quarto, tentando criar algum laço comigo, mas ele diz que eu tenho o fedor de Leon impregnado em minha pele e isso me alegra imensamente, isso o impediu de transar comigo varias vezes.
-Vou para o meu quarto- digo me levantando, sem olhar realmente para ele.
-Não, ficará comigo- diz segurando meu pulso, eu o olho com raiva, mas ele apenas me aperta com mais força.
-Está tarde, Serena tem que dormir- estou usando esse desculpa a dias -tenho que ficar com ela.
Ele me encara por alguns segundos antes de me soltar.
-Vou para nosso quarto em uma hora- diz
Apenas saio pela porta e me dirijo para as escada que me levaria para o subsolo.
Pego o frasco, já quase vazio, de uma poção do sono que Ciara me entregara antes de ser despachada de Sienna.
Encaro o guarda docemente, como faço todas as noites, e chego bem perto, perto o suficiente para que o cheiro da poção chegue em suas narinas, enquanto tampo meu nariz.
Conto dez segundos mentalmente, até que o guarda cai adormecido no chão.
Abro a porta e corro para a ultima cela.
Me ajoelho perto da grades e encaro a figura enorme, agora encolhida e magra que um dia já fora o forte soldado Leon.
-Ei- chamo baixinho
Ele se mexe, reagindo ao som da minha voz e meu coração se parte quando percebo que como todos os outros dias, eu não consigo mais sentir suas emoções.
-Não deveria estar aqui- diz como todas as outras vezes.
-Nem você- digo pegando sua mão e depositando um beijo em sua palma -sinto muito - sussurro.
-Não sinta- sussurra ele de volta -estou bem
-Não, não está- digo com lágrimas nos olhos.
Suas costas estavam repletas de cicatrizes, marcas de chicote, e queimaduras.
-Não é culpa sua- diz
-É sim- digo
-Não seja teimosa ruiva- diz ele olhando em meus olhos, seu olho esquerdo estava completamente vermelho, provavelmente cego -você sabe que a culpa é dele.
Afirmo com a cabeça e pego um saco com comida que eu roubei da cozinha do palácio.
-Coma- digo lhe entregando um pote com mingau -tem que comer, por favor.
-Você também- diz -está magra demais.
-Eu como- digo levando a colher até minha boca, mastigo e engulo, minha primeira refeição do dia -agora você
Ele abre a boca e eu lhe dou uma colherada da gororoba.
-Vou te tirar daqui- digo lhe dando outra colherada
-Eu sei que vai- ele mente, e eu sinto meu coração se partir outra vez
-O casamento é depois de amanhã- me forço a dizer
-Os dias passaram rápido- diz com a voz embargada
-Pelo menos para você- digo limpando os cantos de sua boca
-Você tem treinado?- pergunta ele, mudando de assunto
-Todos os dias- digo - por horas.
-Ótimo- diz com a voz fraca -mas não se esforce mais que o necessário
-Tudo bem- digo baixinho - Luna entrou em contato, ele e Aaron finalmente estão junto de novo
-Ele é um bom soldado- diz -inteligente e forte, Luna também.
-Mandei eles irem embora- digo -em uma carta. Não podem ficar aqui.
-E você diz que parou de proteger a todos- diz com um sorriso fraco
-E eu parei- digo
-Você sempre foi tão teimosa ruiva- diz com uma risada que me enche de alegria, mas logo um acesso de lhe toma conta e me sinto vazia de novo
-Gosto quando você me chama de ruiva, sempre gostei- digo com um nó na garganta
-Eu te amo ruiva- diz enquanto beija cada um de meus dedos
-Eu te amo Leon- digo entre lágrimas
-Você tem que ir- diz ele me soltando.
-Eu não quero- digo -se Max quiser me prender aqui com você tudo bem.
-Você diz isso todas as noites- diz com um sorriso, mas logo fica sério -e eu vou te responder como todas as outras vezes, ele não vai te prender, vai te machucar e eu não quero te ver machucada.
-Eu sei- digo secando minhas lágrimas, me preparando para me levantar.
-Fique longe de Lissa- diz ele enquanto eu me levantava
-Eu vou- digo já indo embora, não me viro quando ele diz que me ama.
Nunca consigo.
⛤⛤⛤
-Venha para a cama- diz Max enquanto ajeito Serena em seu berço.
Respiro fundo e caminho até ele.
Me deito dura, quando ele segura minha mão e leva até seus lábio em um beijo frio.
-Tenho um presente- diz e eu permaneço calada
Ele coloca um anel com uma pedra azul em meu dedo anelar.
-Agora você tem uma aliança- diz com um sorriso e sinto meu estômago afundar
-Obrigada- digo entre dentes antes de correr até o banheiro e soltar nada além de bile e as poucas colheradas de mingau.
Limpo minha boca e meu rosto, me livrando das lágrimas traiçoeiras.
Respiro fundo, tentando me acalmar, enquanto me olho no espelho.
Pareço um fantasma.
Branca, olheiras, magra.
Mordo meus lábios na tentativa de dar um pouco de cor a minha cara.
Funciona só por alguns segundos.
Volto para o quarto e me deito novamente.
-Eu te odeio- digo em alto e bom tom
-Eu sei disso- diz -mas só vai me odiar por enquanto. Um dia serei digno de sue amor.
-Morra Max- digo de costas para ele
-Vou viver com você pela eternidade- diz ele, com certeza com um sorriso nos lábios -sabe, eu queria morrer semana passada, mas quando descobri que eu era herdeiro de tudo isso, tudo mudou.
-Morra Max- repito, na esperança de se tornar realidade.
-Eu achava que Lissa estava me enganando no começo, que iria acabar me matando uma hora ou outra, mas ela é realmente leal a mim- diz -você vai se casar comigo, se tornar minha rainha. Milles vai morrer, eu serei rei.
Não conseguia dizer se sua voz transmitia orgulho ou horror.
-Vou te manter segura, manter todas vocês seguras, mesmo que eu odeie o pai das sua filhas, não vou cometer o mesmo erro do marido da minha avó- diz e eu penso que Max é completamente maluco -vamos ser felizes, eu você e as crianças.
-Morra Max- é tudo o que consigo dizer diante de tanta maluquice.
-Vamos ser felizes- diz antes de finalmente se calar.
⛤⛤⛤
Acordo contra minha vontade e para minha alegria, Max não estava ao meu lado.
Me levanto e sinto vontade de chorar, mas as lágrimas não aparecem.
Amanhã.
Amanhã vou me tornar uma vampira, vou me casar com Max.
Mais uma vez corro para o banheiro, vomitando tudo. Como todos os dias.
Troco de roupa e vou para a arena treinar.
Treinar para matar.
Encaro o arco de Sírinx com tristeza, mas ao mesmo tempo me lembrando da profecia uma vez dita pelas Caçadoras.
No dia em que a lua ficar vermelha
E você se tornar uma vampira
O assassino da ninfa voltara
E você o matará
Para ela voltar a vida
Uma guerra isso desencadeará
O Rei cairá
E a Rainha irá reinar
Para assim a paz voltar
Rezo para que ela seja real.
Atiro nas pombas que Anika, a loba alfa aliada de Max, solta.
Todas caem mortas com uma flecha no coração ou nos olhos.
Nós duas treinamos combate corpo a corpo.
É nela que desconto toda minha raiva, minha tristeza e minha mágoa. Acerto ela em todos os lugares que consigo, preciso fazer alguém sofrer, sofre de verdade.
Anika cai no chão, pedindo para que eu pare.
Encaro sua cara ensanguentada com horror e orgulho, não sei qual sentimento é mais forte.
Saio pisando duro até sair da arena.
Respiro fundo e enterro meu rosto em minhas mãos, chorando.
-Boa luta- diz alguém atrás de mim.
Me levanto num pulo, desacreditada.
Choro ainda mais enquanto pulo no pescoço de Luna, abraçando-a.
-Era pra você ter ido embora- digo
-Não vamos te deixar- diz Aaron enquanto me abraça.
-Mas Max... ele...
-Marie nos chamou- diz Luna com um sorriso.
-Como está Leon?- pergunta Aaron.
-Fraco e machucado- digo com um nó na garganta.
-Preso?- pergunta Luna
-Sim- digo
-Ficará tudo bem- diz Aaron.
-Como?- pergunto
-Aqui não é o lugar senhorita- diz Aaron olhando ao nosso redor.
-Vamos para o jardim- digo baixinho sustentando o olhar de Anika.
-Claro- diz Aaron.
Corremos em direção as escadas, mas é claro que não iríamos para o jardim, não depois de Anika ouvir tudo.
Levo-os para os calabouços, descendo as escadas.
Apago o guarda com agilidade e entro correndo até Leon.
-Ele está aqui- digo baixinho.
Olho para ele que está encolhido em posição fetal.
-General- chama Aaron
Leon se mexe devagar, se virando, tentando se levantar.
-Não se levante- digo baixinho, mas Leon não obedece, se levanta com dificuldade, curvado e agarrado as grades da cela.
-Aaron- diz com um sorriso enorme no rosto.
-Está bem acabado não é?- diz Aaron apertando sua mão
-Já estive melhor- diz ele -como vai, Luna?
-Com dor e com raiva- diz ela com um sorriso de sempre nos lábios.
-Como todos aqui- digo -mas não podemos demorar.
-Seremos rápidos- diz Aaron -temos que estar preparados para tudo, Milles virá para cá amanhã e você vai estar faminta, toda atenção estará voltada para o casamento e a você.
-E dai?- pergunto
-Momento perfeito pra me tirar daqui- diz Leon
-Vai estar uma loucura- digo -cheio de seres sobrenaturais, não tem como sair despercebido.
-Vai estar cheio de seres sobrenaturais, o que vai encobrir o cheiro de Leon.
-Como vão passar pelos guardas?
-Você se casará com o rei, tem poder para mandar e desmandar em quem quiser- diz Luna -é só ser convincente.
-Ser a esposa apaixonada- diz Leon
-Rá- digo com ironia
-Faça por nós- diz Leon
-Você... quer que eu finja estar apaixonada por Max?- digo quase rindo -depois de todo ódio que eu dirigi a ele? Ele nem vai perceber que algo esta errado.
-Fácil- diz Luna balançando seus dedos em minha direção -Marie vai fazer Max acreditar que ele está me colocando contra você, ameaça Aaron de morte, me faz controlar você para se apaixonar por ele, você se casam e tã-dã.
-Você me dá medo as vezes...- diz Leon.
-Vai dar certo?- pergunto baixinho, olhando para Aaron
-Tem que dar.
Balanço a cabeça afirmando.
Dou um beijo em Leon, enquanto Aaron e Luna saem do calabouço.
-Vou tirar você daqui- digo
-Eu sei que vai -pela primeira vez, sinto que ele diz a verdade.
⛤
Nota da autora:
Vocês, leitores, acham que eu deveria dar uma chance de redenção para Max?
Espero que estejam gostando da história...um beijo e um queijo❤
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