Lua de Sangue- Capítulo Especial

-Está linda Yas- digo enquanto admiro a princesa, que estava vestida em um belo e fúnebre vestido preto.
Talvez dizer que ela estava linda não fosse a melhor coisa a se dizer a ela, faz menos de duas semanas que a rainha Helena havia falecido.
Yasmine perdeu parte de sua estonteante alegria, estava abatida demais, mas ainda era a mais bela donzela de Sienna.
-Não quero estar linda- murmura ela me olhando através do espelho -só queria minha mãe de volta.
Me levanto, olhando em direção a porta só pare ter certeza que ninguém, especialmente o rei, não estivesse vindo.
Chego perto de Yasmine e pego sua mão, depositando um beijo demorado na mesma.
-Ela te amava muito- digo
-Isso não ajuda em nada Milles- diz ela irritada.
-Sinto muito- murmuro, já não sabia o que fazer para melhorar o humor de Yasmine, prometi a rainha que iria cuidar da princesa, mas estou um pouco aflito, pois não sei se poderei fazer isso.
Sou um artista, não um guerreiro.
-Não sinta- diz ela sorrindo um pouco -eu sabia que isso iria acontecer, só não estava preparada... e você não tem nada a ver com a morte dela e...
Um soluço escapa de sua boca e lágrimas caem de seus olhos, puxo-a para meus braços, ela se agarra a mim e chora em meu peito por longos minutos.
Assim que se recompõe ela se afasta, passando uma de suas mãos por sua bochecha e alisa a barra de seus vestindo.
-Sinto muito... eu...- começa dizer, mas eu a abraço novamente.
-Eu te amo Yasmine- digo entre seu cabelo.
-Eu também...
-Saia de perto da minha filha!- a voz do rei ressoa pelo salão dos espelhos, causando arrepios em minha espinha, mas não largo Yasmine -não ouviu o que eu disse seu moleque? Saia de perto de Yamine antes eu arranque sua cabeça do pescoço!
Ele me puxa Yasmine ainda chorosa para longe de mim, lançando um olhar assassino em minha direção.
-Se encostar de novo nela eu...
-Não fará nada!- digo com minhas mãos em punho
-Como disse?- pergunta o rei quase gargalhando
-Milles pare...- sussurra Yasmine
-Quem acha que é para falar comigo assim?- diz Alexandre e minha raiva só aumenta -acha que pode passar suas mãos imundas em minha filha e sair impune?
-Passar as mãos nela?- quase grito furioso avançando em direção ao rei
-Sim! E você, Yasmine, não passa de uma qualquer por deixar que um rato de esgoto passe as mãos em você! Pare de agir como uma meretriz e aja como a princesa e futura rainha que você é!
-Mas papai...
-Chamou-a de que?!- grito -Meretriz?! Que ótimo pai és!
-Quieto!- grita o rei -sua mãe teria vergonha de você Yasmine!
-ELA NÃO TERIA VERGONHA DA PRINCESA, ELA TERIA VERGONHA DE VOCÊ. MAS ELA NÃO ESTÁ AQUI PARA TER VERGONHA, JÁ QUE PREFERIU TIRAR A PRÓPRIA VIDA A PASSAR MAIS UM SEGUNDO SEQUER PERTO DO MONSTRO COM QUE ELA SE CASOU- as palavras saiam de minhas boca, eu mal percebia o como aquilo iria ferir a princesa, mal prestei atenção quando Alexandre me prensou contra a parede com suas mãos envolta do meu pescoço.
-Papai, pare!- grita Yasmine -pare, vai mata-lo!
A princesa chora enquanto tentava afrouxar o aperto do rei.
Quando Alexandre enfim me solta, eu caio no chão, tossindo como um cachorro, passando a mão pela pele dolorida de meu pescoço.
O rei se abaixa ao meu lado, puxando meus cabelos para trás, para fazer com que eu olhe para ele.
-Sinta-se sortudo por ainda estar vivo garoto- sussurra ele -nunca mais chegue perto da minha filha, ou então sua vida será a última coisa com que terá que se preocupar.
Ele me solta e sai do salão dos espelhos.
-Milles- sussurra Yas em meu ouvido -fale comigo por favor...
-Estou bem- consigo dizer.
-Onde estava com a cabeça em gritar com meu pai assim?- sussurra ela passando as mãos em meus ferimentos, seus olhos verdes estavam marejados -agora nunca mais poderei vê-lo...
-Seu pai não vai me impedir de ver você- digo passando meus dedos por seu rosto
-Ele vai mata-lo se voltar aqui- diz me ajudando a levantar.
-Então morrei por uma boa causa- digo olhando em seus olhos
-Não seja ridículo- diz ela -você não pode morrer, e também não pode mais voltar aqui.
-Eu vou voltar- digo
-Não Milles- diz ela chorando ainda mais -eu não quero mais ver você
-Mentirosa- digo entre dentes.
-Não fale assim comigo Milles- diz, ela parecia murchar cada vez que a olhava.
-Então não fale besteiras
-Eu não quero mais ver você sr. Salvatore- diz ela baixinho -nunca mais, então fique longe do palácio e de mim...
-É isso mesmo que quer Yasmine?- pergunto aflito, mas tudo o que tenho como resposta são mais lágrimas e um balançar de cabeça, confirmando -pois então nunca mais voltarei a vê-la senhorita.
Me solto dos braços de Yasmine com meu coração partido e manco pelo corredor, me virando para admira-la pela última vez.
-Meu coração sempre será seu, vossa alteza- digo alto o bastante para que ela ouça -pelo menos o que sobrou dele.
Antes que ela possa dizer alguma coisa, eu me viro e volto a mancar para fora do palácio, passando pelos portões e dando uma última olhada na enorme janela que fica no quarto de Yasmine.
Saio em direção no vilarejo, mancando ao passar pela fonte, admirando todo o esplendor do palácio pela ultima vez.
⛤⛤⛤
-Chegou uma carta do palácio- diz minha mãe, limpando suas mãos sujas de farinha em seu avental -abra para mim querido.
Maximus anda até a mesa e pega com suas mãos gordinhas o envelope amassado com o brasão da coroa.
-Me de aqui- digo pegando Max em meu colo, o rapazinho me entrega a carta com um sorriso em seu rosto, cresceu depressa demais, ele nem tinha nascido na última vez em que fui ao palácio e agora já tem três anos.
-Maximus- diz Amara entrando pela pequena porta e lançando um olhar que só ela e minha mãe sabem fazer -solte esse envelope e entregue pare seu tio.
-Obrigado- digo sorrindo para Maximus que faz biquinho -obedeça sua mãe pequeno.
-Marcus e Marie já voltaram?- pergunta Amara se juntando a minha mãe perto da bancada.
-Eles nunca voltam antes do anoitecer- diz minha mãe -a menina gosta de treinar com o pai.
Encaro fixamente para o papel em minhas mãos, sentindo meu peito afundar, sentindo uma dor que eu havia sentido a três anos voltar de forma avassaladora.
-O que diz o envelope Milles?- pergunta Amara.
Mal consigo falar, apenas a encaro, querendo que aquilo não seja real.
-O que diz ai?- repete o pequeno Maximus.
-O-o Festival será aberto para o vilarejo- murmuro e minha mãe bate palmas de alegria -e-e... a princesa... a iniciação... é...
-Milles me de esse papel!- diz Amara tirando-o de minhas mãos com um sorriso, mas logo esse sorriso foge de seus lábios- eu sinto muito...
-O que foi?- pergunta minha mãe -por que sente muito?
-A iniciação da princesa- diz Amara -será nesse festival.
-E o que tem isso?- pergunta minha mãe ainda sem entender.
Tiro Max de meu colo e me levanto, indo até a porta, eu estava quase sufocando aqui dentro.
-Ela vai se casar- digo antes de bater a porta com força e corre pela floresta.
Tudo o que eu pude fazer, era correr, correr e correr.
Sem parar.
Sem destino.
Só correr.
E chorar.
Posso sentir cheiro de sangue a alguns quilômetros de mim, preciso caçar.
Desde a minha iniciação, eu descobri que era diferente.
Podia controlar as pessoas, controlar minhas presas.
Era fácil caçar, mas eu gostava de correr, correr mais rápido que o vento, gostava de ser silencioso.
Gostava do gosto de sangue.
Do cheiro.
Uma corça.
Ferida, mas rápida.
Eu apenas e seguia, correndo mais devagar.
Ela sente minha presença e corre mais rápido, fugindo do inevitável, assim como eu.
Eu sabia que quando deixei Yasmine, ela teria que se casar com alguém melhor que eu, mais rico, nobre.
Ataco a corça rapidamente, derrubando-a e finco minhas presas na carne dura de seu pescoço. Sangue esguicha do ferimento, mas não paro.
Até que um "Ah...!" me faz parar.
Seus olhos verdes me encaram com medo e algo mais... surpresa? Felicidade? o que seria?
Ela tira o manto de sua cabeça e sussurra meu nome, doce e melódico. "Milles..."
Limpo minha boca rapidamente e penso em correr dali, apagar as memórias dela, mas tudo o que posso fazer é olhar para seu sorriso.
Ainda continua linda, mas está diferente.
Seu cabelo está maior, olheiras preenchem seus olhos, seus lábios estão mais rosados, seus olhos mais verdes.
-Não vai dizer oi?- pergunta ela com uma risada que faz meu coração perder o controle.
-Oi- consigo dizer
-Quanto tempo- diz ela ainda rindo.
-Por que será- digo, me lembrando de seus olhos marejados, de quando ela disse que não me queria por perto.
Ela sorri, envergonhada.
-Está bonito- é tudo o que diz
-E você continua linda- digo ,e arrependendo -seu noivo tem sorte.
As palavras tem um gosto amargo em minha boca.
-Com certeza tem- diz com ironia -sua noiva deve ter sorte também.
-Não tenho noiva- digo rápido demais -nem esposa.
Ela ri de meu desconforto e da um passo em minha direção e eu faço o mesmo.
-Senti sua falta Milles- diz Yasmine
-Eu também, mais que tudo- sussurro, tudo o que eu queria era sentir a maciez de sua pele novamente.
-Vai a minha iniciação?- pergunta -consegui convencer papai a abrir a cerimônia para o vilarejo.
-Seu casamento, você quis dizer- digo com raiva -e por que quer que eu vá? Não tem piedade de mim?
-Uma vez você me disse que seu coração sempre seria meu- sussurra, chegando mais perto -disse a verdade?
-Sim- digo -ele ainda é seu, mas pelo que vejo, o seu nunca foi meu.
-Tão teimoso- diz sorrindo -isso não mudou
-Não, não mudou.
-Isso é bom- diz parando a um passo de mim -não quero me casar.
-E por que diz isso a mim?- pergunto, quebrando a distância, seus olhos me encaram profundamente.
-Porque meu coração ainda é seu- sussurra -se não tivesse corrido para longe aquela noite, saberia disso.
-Você me fez correr para longe Yasmine- digo
-Meu pai iria te matar- diz sombria -estaria seguro longe de mim.
-Sim, eu estaria- digo -como sabia que eu estava aqui?
-Não sabia- diz -eu só segui a corça.
-Como?- pergunto confuso
-Uma delas- sussurra, até você rasgar o pescoço dela.
Não digo nada, eu mal respirava, só conseguia encarar seus olhos e seus lábios.
-Você ama ele?- pergunto -por menor que seja o sentimento, ama ele?
-Não -sussurra ela
-E você me ama?- pergunto num sussurro
-O que acha Milles?- pergunta passando seus dedos em minha nuca.
-Vamos embora então- digo rápido, no que você está pensado?! Eu não sabia. -vamos para o norte, para as montanhas, eu e você.
Ela sorri tristemente, mas concorda.
-Vamos- diz olhando em meus olhos.
-Vamos?- eu mal consegui conter o sorriso que se formava em meus lábios -vai ser minha? Finalmente?
-Depois da iniciação- diz ela -vou me tornar igual a você e depois fugimos, eu e você.
-Depois da iniciação então- sussurro -é melhor você ir...
-Não antes de ter você- ela diz antes de encostar seus lábios nos meus.
Ela era quente.
Seguro seus cabelos ruivos em minhas mãos, levando a outra para a base de sua coluna, fazendo-a se virar, um gemido escapa de seus lábios quando desamarro seu espartilho.
Ela agarra meus cabelos e suspira.
Faço com que ela se vire para mim novamente e admiro seu corpo nu, suas curvas fartas e belas.
-Eu te amo- digo -amo até morrer.
-Até a eternidade então- ela sussurra revirando seus olhos enquanto beijo seus lábios vorazmente.
Abaixo minhas calças na altura de meus joelhos e faço com que uma de suas pernas enlace minha cintura antes de penetra-la.
Nunca em minha vida havia feito algo parecido, era uma sensação revigorante, eu me sentia vivo de novo.
Sentir a pulsação acelerada de Yasmine em meu ouvido, sentir o cheiro de seus cabelos novamente, sentir suas unhas rasgarem a pele de minhas costas.
Sua boca transmitia sons que me faziam ir a loucura enquanto urros saiam de minha garganta.
Ela era minha agora, minha, minha, minha.
Meu raio de sol, minha Yasmine, minha noiva.
Minha.
Sinto sua vagina apertar e mais uma vez o som delicioso escapa por seus lábios, foi quando eu senti que estava explodindo, um líquido branco e grosso escorria pelas pernas macias de Yasmine.
Ela olha em meus olhos, passando a mão por meus cabelos, beijando meus lábios, repetindo como um mantra:
-Eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo.
-Minha- sussurro percorrendo suas curvas com a ponta de meus dedos.
-Pela eternidade- diz sorrindo.
-Tem que ir agora- sussurro, mesmo não querendo solta-la
-Só ficaremos longe por uma semana- diz beijando-me novamente.
-E então ficaremos juntos.
-Acharei um jeito de você estar perto de mim na cerimônia- diz enquanto amarro suas vestes.
-Tudo bem- digo
-Senti sua falta Milles- diz com um sorriso
-Eu também Yas- digo.
Ela fica na ponta dos pés e me beija, antes de se virar e andar pela floresta.
Eu sentia que meu coração estava inteiro novamente, que meu sonho se tornara realidade.
Mas a felicidade tinha o seu preço.
⛤
Continuação no próximo capítulo❤
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