Lua de Sangue-Vigésimo Sexto Capítulo

-Nós vamos a uma boate, por acaso?- pergunto olhando cética o vestido preto á la prostituta que Lissa me dera.
-Sim- diz ela tentando enfiar uma meia arrastão por sua perna esquerda, já frustrada, seus dedos sempre ficavam presos nos buracos da meia -Luna queria que você tivesse uma noite divertida, mas eu não iria a nenhum lugar com cheiro de algodão doce e com adesivos de unicórnios que Luna escolheu, então nós vamos a uma boate.
-Vestidas como prostitutas?- perguntei arqueando minhas sobrancelhas
-Prostitutas não se vestem assim- diz ela -elas normalmente usam roupas chamativas demais, muito coloridas, nós estamos de preto.
-Ah, então somos prostitutas góticas- digo me olhando novamente para o espelho.
-Sem drama chérie, você vai ficar fantástica nesse vestido- Lissa se levanta, já vestida com sua meia arrastão, um shorts jeans preto, que na minha opinião mostrava coisas demais, um top preto praticamente transparente com uma jaqueta jeans por cima -se vista logo e vamos.
-Não vou vestir isso Lissa- digo, eu adorava ir a boates, mas nunca com tão pouca roupa.
-Então coloque algum daqueles seus vestidos de gala chamativos- diz Lissa debochando.
-Sinto falta das minhas roupas- digo baixinho
-Passaremos na sua casa no mundo humano então- diz Luna na porta do quarto.
-Ficou maluca, Luna?- digo -minha família acha que eu estou morta, não posso chegar em casa e dizer:"Hey, então eu não estava morta, e vou me tornar uma vampira daqui a uma semana, aliás, preciso de uma das minhas roupas porquê vou para uma boate!"
-Eu não seria tão direta assim, se fosse você- diz Lissa passando seu batom vinho
-A questão é, eu adoraria, mas não podemos- digo -seria impossível.
-Na verdade é totalmente possível- diz Leon -sua família não está na sua antiga casa, estão viajando.
-Como você sabe disso?- pergunto incrédula
-O Conselho tem monitorado sua família, caso Max tentasse algo contra eles- diz Aaron, segurando Serena, do corredor.
-Posso ir pra casa?- pergunto baixinho.
Eu sentia muita falta de casa, mesmo sabendo que ir até lá seria um risco desnecessário a se correr, mas bem lá no fundo, eu adoraria voltar, mesmo que por apenas alguns minutos. Afinal, o que poderia dar errado?
-Sim- diz Luna, ela quase dava pulinhos de tanta animação.
-Vocês vão precisar de alguém que abra um portal para irem até o mundo humano- diz Aaron -mas terão que usar a entrada de Milles para voltarmos, já que não terá magia o suficiente para abri-los de lá.
-Sei quem pode ajudar com isso- digo sorridente.
⛤⛤⛤
-Não posso ajudar- diz Caleb
-Por que não?- pergunto desapontada
-Max apareceu aqui ontem a noite, com uma mordida de Lobisomem terrível, que pelo o que minha intuição diz, foi feita por seu namorado
-Mas sou eu quem está pedindo ajuda- digo
-Não estou nem ai- diz Caleb.
-Posso obriga-lo a abrir um portal se quiser, chérie- diz Lissa, um sorriso diabólico em seus lábios, Caleb parece tremer com a ameaça de Lissa, mas não tenho certeza.
-Estou ocupado, vossa alteza- Caleb parece cuspir essas últimas palavras, o que fez Leon soltar um leve rosnado.
-Cansei de esperar, mon amour- diz Lissa caminhando firme até Caleb -ou você abre um portal, ou então eu arranco seus dedos.
-Não faria isso- diz o bruxo
-Ah, ela faria sim- diz Luna
-É pra hoje, monsieur- rosna Lissa
Caleb bufa e então uma luz verde aparece em suas mãos, ele faz alguns desenhos no ar e então um pequeno portal aparece perto da porta de sua cabana, Caleb se vira e volta a fazer suas coisas.
-Andem logo- diz ele -não vai durar muito
Luna passa primeiro, depois Leon.
Olho para Lissa que diz para eu ir na frente.
Pulo por ele e então vejo o riacho que passa por trás de minha antiga casa.
O lugar onde eu passava a maior parte de meus dias sem graças, para fugir das brigas com meu pai, parece que aconteceu anos atrás.
Lissa passa e então o portal se fecha.
-Não é tão ruim assim- diz ela
Não consigo responder, tudo o que faço é correr até a porta.
Olho pelas janelas, a casa está vazia, como Leon disse.
Lissa tenta usar sua magia, mas não consegue, tudo o que acontece são faiscas azuladas saindo de sua mão.
-Odeio o mundo humano- resmunga ela -como vamos entrar agora?
-Usando a chave?- digo pegando uma de dentro de um dos vasos pendurados perto da porta.
Abro a porta e o cheiro familiar de baunilha e mofo invade minhas narinas.
Corro até o escritório de papai.
Está praticamente vazio, apenas algumas fotografias da família e frases motivacionais penduradas nas paredes e em cima de sua mesa.
Subo as escadas e fico paralisada no corredor.
Respiro fundo e tento me acalmar, eu mal notava a presença de todos atrás de mim.
Ando até meu quarto em passos de tartaruga.
Seguro na maçaneta e a giro lentamente.
Meu quarto está exatamente como eu me lembrava.
Minha cama cheia de almofadas em tons de azul escuro e preto.
Minha estante de livros.
Meu enorme espelho (antigo cenário para as fotos que eu tirava com May e Alice), com luzinhas, agora apagadas, decorando o quarto.
Os quadros pendurados na parede e em minha mesa de cabeceira.
Pego um deles e quase choro ao ver uma foto que eu e meus amigos tiramos alguns anos atrás.
Estava tudo exatamente igual
-Parece que está tudo no lugar- diz Lissa.
-Sim- digo baixinho -demorou anos para que papai se desfizesse das coisas da mamãe, não achei que seria diferente comigo...
-Sinto muito, Sa- diz Luna, vindo ao meu encontro
-Tudo bem- digo, segurando sua mão -precisamos achar as roupas logo.
-Ok- diz ela com um sorriso gentil.
Abro meu guarda roupa e pego minha calça jeans azul, meu cropped vermelho e um salto preto que estava escondido no fundo do meu armário.
Vou para meu banheiro e enfio tudo correndo.
Abro minha gaveta de maquiagens e passo várias camadas de rímel, até sentir meus olhos pesarem, passou meu batom vermelho matte e um pouco de blush, eu estava extremamente pálida.
Saio do banheiro correndo e vejo todos em meu quarto, parecendo muito desconfortáveis, como se não soubessem o que fazer.
Tive que abrir um sorriso ao ver aquela cena.
-Acho que as roupas do meu irmão servem em você- digo olhando para Leon.
-Ah...- diz ele, desconfortável
-Vem- digo o puxando pelo braço, era inacreditável o que uma roupa bonita e quilos de maquiagem pudessem fazer com sua autoestima
Fomos até o quarto de Anthony e eu puxei uma calça jeans preta e sua blusa mais bonita, uma de meia manga com uma estampa metalizada sem sentido, e suas botas pretas, de sua época emo gótica na adolescência e as entreguei para Leon.
Ele me olhou de um jeito estranho, mas as vestiu mesmo assim.
-Uau- digo ao vê-lo
-Ficou bom?- perguntou, ele estava ansioso
-Está ótimo- digo me divertindo -agora coloque isso
Lhe dou um cordão que eu dei a Anthony a alguns anos, o passo pelo pescoço de Leon e dou beijo em seus lábios.
-Perfume?- digo com uma risada
-Está dizendo que eu estou fedido?- diz em tom de brincadeira
Rio e borrifo um pouco de perfume em seu pescoço.
-Dá pra vocês se apressarem?- grita Lissa do corredor - apesar de estarmos indo a uma festa, ainda temos uma Joia pra roubar.
Saímos do quarto e Lissa murmura"finalmente" e então descemos as escada, indo até a porta.
Nós saímos e então eu a tranco, logo depois deixando a chave no mesmo lugar que antes.
Respiro fundo e me junto aos outros, que já estavam indo embora.
⛤⛤⛤
-Aonde a Joia está?- pergunta Luna
-Em algum lugar na Noruega- diz Lissa
-Noruega?- pergunto espantada -mas isso fica a quase quinhentas milhas daqui.
-E daí?- diz atravessando a rua.
Estávamos chegando em uma das boates mais badaladas da minha cidade, o Phoenix Nightclub, o que não era muita coisa, além de música alta, luzes de led e adolescentes bêbados e drogados com muita pouca roupa e suados.
-Como vamos chegar lá?- pergunta Leon
-Com um portal- diz ela
-Isso não é possível- digo -pelo menos é o que eu acho, não temos magia aqui, não é?
-Não precisamos de muita magia pra nos locomovermos no mundo humano- diz Lissa passando por uma cortina de lantejoulas -e olha só!- diz Lissa apontando para a janela -hoje é noite de lua cheia, isso basta para abrir um portal daqui até... quantas o que você disse mesmo?
-Quase quinhentas milhas- murmuro
-Isso- diz ela -a energia da lua basta para abrirmos um portal daqui até um lugar com quase quinhentas milhas de distância.
-Já entendi- resmunguei -então nós poderíamos ir a qualquer lugar, lá na Noruega, e vocês escolhem uma boate velha da minha antiga cidade?
-Oui- diz Lissa
Reviro os olhos e continuo andando.
-Ótimo chérie- diz Lissa -agora se divirta no meio desses... eca, humanos. Vou achar alguma bruxa que possa nos mandar pra Noruega
-Não temos bruxas em Foggy Forest- digo
-Claro, chérie- diz Lissa com deboche antes de se afastar de nós- claro.
Reviro os olhos e encaro Luna e Leon.
-Nunca vi tantos humanos em toda a minha vida- diz Luna maravilhada -é incrível, mas esse lugar fede.
-Perfume barato e álcool- digo -não há aroma melhor para uma boate.
-E o que a gente faz?- pergunta Leon se desviando de um rapaz que derramava cerveja para o alto
-Normalmente- digo -a gente dança, bebe e flerta com alguém
Leon arqueia as sobrancelhas , reprovando o que eu disse.
-Mas vamos deixar a parte de flertar de fora...- digo
Nós ficamos nos encarando por algum segundos até que eu olho para o fundo do salão e vejo um pequeno bar.
-Preciso de uma bebida- digo e vou até lá, os dois seguem atrás de mim
Vou me espremendo entre as pessoas e me desvio hora ou outra de jatos de bebida que jorram de copos das pessoas enquanto elas dançam.
Paro entre duas muralhas, um moreno e outro com cabelos de tom avermelhado, e tento chamar a atenção do barman.
Depois de dar alguns pulinhos e gritinhos ele se aproxima de mim.
-Identidade- diz com uma voz claramente desgastada por conta de anos sendo um fumante.
Tiro minha identidade do bolso e a entrego.
-Dezenove, é?- diz enquanto me olhava de cima a baixo
Dou um sorriso amarelo, tentando não parecer nervosa.
-Não acredito nem um pouco nessa identidade falsa- diz jogando-a para mim -mas estou de bom humor então tome essa cerveja, e não volte pro bar, se não serei obrigado a chamar a segurança.
Dou outro sorriso amarelo, mais forçado ainda, e pego a caneca cheia de cerveja e saio.
-Eu não vi você fazer o que eu acho que você acabou de fazer- diz Leon
-Então que bom que você não viu- brinco -eu só...MERDA
Enquanto eu ia bebericar minha cerveja uma das muralhas, o moreno para ser mais exata, resolve se levantar e esbarrar em mim, fazendo com que eu fique toda molhada e a caneca de vidro de espatife no chão.
-Sinto muito- diz e segue em frente, sem se importar realmente.
Respiro fundo e tento não armar nenhum barraco.
-Luna- digo enquanto ela me encarava preocupada -preciso me limpar
-Vamos- ela diz enquanto Leon segura uma risada, olho feio para ele e então sigo para o banheiro junto com Luna.
O banheiro estava escuro, a única iluminação eram pequenas luzes vermelhas, e cheio de mulheres retocando a maquiagem, outra estava dentro de um dos boxes enquanto colocava as tripas para fora, perto de um dos espelhos, duas garotas estavam se pegando, desvio o olhar, mas Luna as encara fixamente.
Pego o máximo de papel possível e passo por meus braços e minha roupa.
-Que merda...- resmungo baixinho e Luna da uma risadinha enquanto pegava mais papel.
-Ai meu deus, Sabine?!- diz uma voz perto de mim
Me viro instintivamente e tento não correr até ela.
-Alice?- digo baixinho, tentando ignorar o fato que eu deveria estar morta.
Ela estava pálida, mesmo com as várias camadas de seu batom roxo contrastando com sua pele morena, a raiz de seus cabelos castanhos imaculadamente alinhados com gel enquanto o resto estava preso em um rabo de cavalo em cachos cascateando por suas costas.
Alice corre até mim e me abraça com lágrimas nos olhos.
-C-como você...- tentava dizer com a voz embargada -você morreu... c-como...?
Olho para Luna que esta com um ar desesperado.
-Alice, eu...- começo
-Não importa- diz com um sorriso -você está aqui e...
Luna coloca suas mãos na cabeça de Alice enquanto faz uma careta, sua mágica estava fraca, mas era o suficiente para Alice parar de falar e seus olhos se tornarem vazios.
-Luna, o que você...
-Sinto muito, Sa- diz -vá para fora, encontre Leon e Lissa, eu já vou...
Tento dizer que não, que ela deveria parar o que estava fazendo, mas eu sabia que isso não seria possível, seria melhor para Alice se ela nunca tivesse me visto.
Saio do banheiro, por incrível que pareça, ninguém havia percebido o que Luna estava fazendo, e procuro por Leon, eu estava angustiada, mal conseguia respirar, mas pelo menos consegui conter minhas lágrimas.
-O que foi ruiva?- pergunta Leon, as vezes esqueço que ele pode sentir tudo o que eu sinto
-Temo que achar Lissa e ir embora- digo baixinho
-Onde está Luna- pergunta
-Depois eu explico- digo, minha voz mal saia
-Tudo bem- diz e passa seus braços por volta de mim -vai ficar tudo bem.
Procuramos Lissa e quando a achamos eu os expliquei o que estava acontecendo.
Lissa foi atrás de Luna enquanto eu e Leon saiamos da boate.
Agora minha última lembrança da minha melhor amiga será seu rosto repleto de lágrimas e depois seus rosto se tornando duro e seu olhar, vazio.
⛤
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