Lua de Sangue- Vigésimo Oitavo Capítuo

                                                      

    Caio em cima da grama seca, com um barulho estranho.
    Fico parada com minha bochecha, agora muito dolorida, assim como o resto do meu corpo, colada ao chão, tentando entender o que aconteceu.
    Estou sozinha, não vejo nenhum dos três em lugar algum.
    Me levanto devagar, não quebrei nada, mas ainda estou sem ar.
    Limpo minhas roupas com batidas e olho ao redor, quase não consigo ver direito, a luz da lua esta fraca, mas posso ver um lago enorme.
    Subo em cima de uma pedra as margens do lago e admiro a lua refletida no mesmo.
    Há uma floresta de pinheiros do meu lado do lago, do outro, uma planície se estende a vários quilômetros até luzes bem distantes.
    Encaro o lago negro por mais alguns segundos antes de me virar devagar para encarar Lissa.
   -Vai ficar ai a noite toda?- diz com os braços cruzados
   -Onde estão Leon e Luna?- pergunto voltando a pisar na grama.
   -Por ai- diz -vamos para o outro do lago, talvez nós os encontramos, se não, pelo menos vamos ter chegado a Joia da minha mãe.
    Lissa anda para o outro lado e eu a sigo em silêncio.
    Ouço Leon gritar meu nome ao longe, Lissa me encara e então seguimos para onde a voz vinha.
    Ele estava seguindo para o mesmo lugar que nós, corri um pouco mais e chamei por ele, que se virou e suspirou aliviado.
   -Cadê a Luna?- pergunta ele
   -Não sabemos- diz Lissa sem parar de andar -ela deve estar por aqui.
    Seguimos então para um tipo de caverna onde o lago estava cristalino, onde a lua cheia ainda poderia ser vista por buracos da caverna.
   -Que lugar é esse?- digo maravilhada, encarando os cristais presos as pedras
   -Você já vai saber- diz Lissa tirando seus saltos e pisando na água, se abaixou e pegou um tipo de baú.
   -Essa é a Joia?- pergunta Leon olhando para o baú.
   -Não- diz ela abrindo-o e pegando um frasco de vidro sujo -vamos precisar disso para pegá-la
    Ela o abre e pega um punhado de sal.
   -Coloque nas roupas- diz ela
    Arqueio minhas sobrancelhas mas obedeço mesmo assim.
    Passo o sal por meu cropped e coloco um pouco nos bolsos de minha calça, Leon faz o mesmo.
    Escutamos Luna nos chamando, Leon me olha e eu digo para ele ir busca-la.
    Lissa pega algumas joias e as limpa em sua jaqueta.
   -Coloque no pescoço, é prata- diz me entregando um colar horrível e pesado.
   -Pra que isso?- pergunto
   -Você já vai ver- diz
   -Oi- diz Luna aparecendo atrás de mim, me fazendo saltar pelo susto -desculpe
    Ela sorri e eu também.
    Luna coloca sal por suas roupas e arruma várias pulseiras de prata em seus pulsos.
   -Agora me sigam- diz Lissa entrando mais a fundo na caverna, com água em seus tornozelos.
    Levanto a barra de minha calça e a sigo, a água estava congelando, eu mal sentia meus dedos do pé.
    Leon vem atrás de mim, sua mão pousada  na base de minhas costas enquanto eu me escorava nas paredes úmidas, tentando seguir pelo caminho menos fundo.
    Chegamos ao que parecia o centro da caverna, já não mais tão bonita.
    A água voltara a ser escura, havia uma neblina densa e pedra gigantes em formatos nada naturais.
    Lissa para e coloca seu dedo indicados nos lábios, indicando para não fazermos barulho.
   -Olá?- diz uma voz feminina, era doce, melódica até, quase hipnotizante eu diria.
   -Merda- murmurou Lissa
   Uma garota, não parecia ser muito mais velha que eu, com a pele pálida, cabelos castanhos que batiam em sua bunda, vestida com um vestido colado em tom avermelhado, ela parecia estar suja, mas isso a deixava ainda mais bela.
   -Vocês podem me ajudar?- ela diz piscando levemente, sua voz unicamente encantadora ressoava nos ouvidos de Leon -estou perdida...e confusa...estou faminta também.
   -Eu a ajudo- diz Loen indo até a garota, seu olhar estava vazio, vidrado naquela menina, Lissa o segura, Leon não parava de encarar a garota.
   -Claro que vai- diz Lissa -se quiser virar o jantar dela.
   -O que ela é?- pergunto
   -Uma huldra, um tipo de fada maligna- diz Lissa- ela está guardando a Joia.
   -É melhor deixar Leon longe dela- diz Luna -seus encantos são piores que os meus...
   -Como?- pergunto encarando Leon, ele estava literalmente, quase babando por ela.
   -Elas são como as lendas da minha espécie do seu mundo- diz Luna tentando se aproximar da huldra -mulheres lindas e gentis, elas seduzem os homens para se satisfazerem, se eles não conseguirem, ela os mata, só que ao invés de uma calda de peixe, elas possuem um rabo de vaca e um buraco em suas costas  
   -Eu não estou vendo...- digo
   -Claro que não está- diz Lissa -ela os esconde no vestido e com seus cabelos.
    Reviro os olhos e Luna joga uma de suas pulseiras na huldra, que rosna enquanto mostra seus dentes pontudos como navalhas, seus olhos saltam enquanto se tornam vermelhos, ela recua, abrindo passagem.
   -Vamos- diz Luna, a huldra a encarava com ódio sem nunca parar de rosnar.
   -Você não vai me ajudar?- diz para Leon, a voz um pouco mais suave, mas seus dentes ainda eram pontudos -elas vão me machucar.
    Leon tenta se soltar de Lissa, mas sem sucesso.
   -Posso quebrar o pescoço do seu namorado?- diz Lissa sem emoção.
    Olhei feio para ela que revira os olhos e segue Luna, enquanto joga um punhado de sal na huldra, fazendo sua pele queimar enquanto um urro raivoso escapa de seus lábios.
   -Me ajude- choraminga ela para Leon.
    Eu pego o sal que estava em meus bolsos e arremesso em sua direção.
    Ela cambaleia para trás, desistindo.
    Andamos por um túnel que passava pela caverna sem saída, suas perdes eram repletas de cristais.
   -E agora?- pergunta Luna.
    Lissa vai até a parede de rochas e passa suavemente seus dedos pelos cristais fundidos a rocha, e então puxa um cristal cinza-aço, levemente brilhante.
    Ela se aproxima de nós e então posso vê-lo melhor, sua superfície polida dava a impressão de ter sido transformada pelas mãos de um homem, o que eu tenho quase certeza que era o caso.
   -Como você soube que era essa?- pergunto.
   -Eu tenho uma ótima memória chérie- diz sorrindo, era a primeira vez que eu via esse sorriso no rosto de Lissa, era um sorriso genuíno, um sorriso feliz, não era como seus sorrisos zombeteiros, esse era um tipo de sorriso que demonstrava um carinho real -e eu nunca poderia esquecer do formato dessa pedra...
    Lissa pega um colar dourado de seu bolso, onde ela posiciona o cristal, que se encaixara perfeitamente.
   -É lindo- diz Luna
   -Sim- diz Lissa ainda sorriso, e então tão rápido quanto esse sorriso chegara em seus lábios, eles desapareceram, como se Lissa finalmente se desse conta de que a estávamos a encarando, ela pigarreia e então começa a andar, segurando Leon pelos braços -agora vamos, tenho uma bruxa pra matar
   -Matar?- digo
   -Você não achou mesmo que eu iria deixar ela ficar com esse seu corpinho delicioso- diz sem pudor e eu coro até a raiz do cabelo, porém com certo alívio de não ter que me livrar de meu corpo -esse corpo só fica bom com a sua alma nele, não combina com aquela velha maníaca.
    Arqueio minha sobrancelhas, mas não consigo conter um sorriso de gratidão.
    Seguimos até o centro da caverna novamente, onde a huldra estava sentada em uma das imensas pedras, Lissa solta Leon, que pareceu querer correr até a huldra, mas Luna e eu o seguramos, com muita dificuldade.
    Lissa vai até a huldra sem se importar com seus rosnados e dentes que tentavam morde-la, ela a segura por seus braços, fazendo sua pele queimar, enquanto ela se debate. Lissa puxa seus cabelos para o lado, mostrando um enorme buraco, parecido com um tronco de árvore podre, Leon volta ao normal, piscando algumas vezes, atordoado.
    Lissa puxa mais ainda os cabelos da huldra, fazendo alguns fios se soltarem do couro cabeludo, depois atravessa sua mão por suas costas, fazendo-a chegar em seu peito, enquanto a huldra berra, Lissa a faz engolir um punhado de sal, sua boca queima e sua pele derrete, fazendo com que ela caia no chão gritando.
    Nós nos apressamos para sairmos de lá, Lissa nos segue logo depois de arrastar a huldra para fora do caminho.
    Chegamos novamente a entrada da caverna, Leon ainda parecia atordoado, seus sentimentos estavam bagunçados e aquilo me deixava confusa.
    Lissa coloca novamente seus saltos e eu tiro o resto de sal das minhas roupas, para enfim sair daquela caverna úmida, porém linda, e escura.
   -Temos que esperar?- pergunto
   -Sim- diz secamente - a não ser que você queira voltar andando para a Suécia
    Reviro os olhos e me sento na grama úmida, logo Leon senta ao meu lado.
   -Quer conversar?- pergunto fechando os olhos enquanto encosto minha cabeça em seu ombro.
   -Eu vi você- diz
   -Era pra isso ser uma surpresa?- digo rindo, mas Leon ainda continua sério
   -Mas não era você- diz e eu entrelaço nossos dedos, apertando levemente -era como se você estivesse me chamando, e pedindo ajuda, era como se... ah esquece.
   -Tudo bem- digo, eu sentia a confusão estava em sua cabeça -está tudo bem
    Leon balança a cabeça confirmando e aperta mais nossos dedos.
   -Me desculpe por ser um idiota as vezes- diz e eu tento dizer o contrário, mas ele me impede -sim, eu fui um idiota várias e várias vezes, principalmente quando você precisava de mim, eu sempre me afastava e te deixava sozinha, eu sinto muito por isso.
    Ele suspira e então continua:
   -Eu juro que não queria ser assim, eu juro que queria ser o cara perfeito, você não sabe o como eu queria poder te consolar pelo menos de uma forma decente quando você precisa de mim, ao invés de fugir e te deixar sozinha, eu queria muito que essa sensação de que eu não sou pra você, de que você  estaria melhor sem mim, de que estarmos juntos não parecesse errado sumisse... porquê sim, é errado nós estarmos juntos. Era pra eu te odiar, não te amar tão profundamente como eu te amo, eu me sinto um tolo por te amar assim, por sentir uma agonia tão grande que parece que eu vou morrer quando não estou perto de você, e me sinto a pior escória da sociedade por te fazer sofrer, por deixar esses seus lindos olhos verdes sem vida, eu quero morrer quando não estou perto de você, Sabine, você é literalmente a razão da minha insignificante existência...
    Fecho meus olhos fortemente, tentando não chorar, apenas passo minhas mãos por seu pescoço e me aproximo ainda mais.
   -Você é perfeito pra mim- digo baixinho, com a voz embargada -não importa que você pense que não é pra mim, não importa que você pense que me faz mau... eu não me importo, porquê eu penso totalmente o contrário, eu não consigo imaginar minha vida sem você.
    Leon olha em meus olhos, como se visse através de minha alma, desvendando todos os meus segredos, entendendo todos os meus desejos, então passa seus dedos por minha coluna, enquanto deposita um beijo calmo e cheio de carinho em meus lábios.
   -É agora que você pede ela em casamento?- diz Lissa com deboche.
    Me afasto de Leon e bufo, após Lissa estragar todo o clima.
   -Ainda não- diz Leon sorrindo.
    Balanço a cabeça e então me levanto.
    Luna tinha um sorriso que ia de orelha a orelha, ela se aproxima de mim saltitante.
   -Nem comece, Luna- digo e ela fecha a boca bruscamente.
   -Você é tão chata- diz semicerrando os olhos.
    Rio e então o clima fica estranho.
    Um vento feroz assovia em nossos ouvidos, fazendo com que o lago se remexa com pequenas ondas, o chão treme e então um pentagrama aparece no chão, o fogo iluminando a floresta.
    Lissa nos encara então seguimos cada um para uma das pontas da estrela, tomando cuidado para não nos queimarmos.
    Meus ouvidos zunem por alguns segundos e quando eu menos espero, estamos novamente dentro do círculo de espinhos.
   -Acharam a Joia?- pergunta Agnes encarando Lissa
   -Não tivemos tempo- diz Lissa e eu tento parecer indiferente com a mentira de Lissa 
   -É uma pena, uma pena mesmo- diz Agnes se levantando, vindo até mim -agora você pode dar sua casca a mim- ela diz com uma voz jocosa.
    Recuo um passo, sem desviar meus olhos do sorriso banguela da bruxa.
   -Falando nisso- diz Lissa, agora atrás de Agnes, enquanto sorria diabolicamente -acordo desfeito.
   -Como é?!...- quase grita Agnes ao se virar encarar Lissa, qua tem suas mãos na cabeça da bruxa, enquanto sugava sua vida.
    Agnes cai de joelhos enquanto sua aparência envelhece ainda mais, os dois demônios tentam ajuda-la, mas Lissa usa seus poderes para prende-los ao chão.
   -Nunca te ensinaram que não se deve fazer acordos com o diabo?- diz Lissa encarando a bruxa nos olhos -bruxa tola, sempre se tem um preço a pagar.
    Agnes tenta dizer algo, mas Lissa quebra seu pescoço, deixando seu corpo cair no meio do circulo sem vida.
    Lissa caminha até nós com um sorriso enorme.
   -Achei que não tivesse magia- digo
   -É noite de lua cheia e estamos em um circulo mágico- diz ela -eu só canalizei tudo, chérie.
    Ela caminha até o baú de Agnes, saltando seu corpo caído no chão para chegar até lá.
    De lá ela retira a adaga com que ela cortou seu pulso, caminha até Anastazya e Alexei.
   -Agora vejam se aprendem a ter mais respeito a rainha de vocês- diz ela encaixando a lâmina na garganta de Anastazya -lá do inferno.
    Viro o rosto quando ela arrasta com força a lâmina da adaga, fazendo jorrar sangue da ferida aberta do pescoço do demônio.
    Ela faz o mesmo com Alexei.
   -Agora podemos ir- diz ela limpando o sangue negro em sua jaqueta.
    Seguimos pelo mesmo caminho pelo qual viemos, passando pelo Phoenix Nightclub antes de chegar em minha casa vazia.
             
                                                                                  
          
             
     
                     
      
           
       

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